Deixe que o medo entre e aceite-o
Hoje falamos do medo. Essa emoção maldita, que nos atormenta de diferentes formas ao longo do nosso percurso de vida. Desde sempre somos instados a encarar o medo como algo negativo, como uma sensação que nos causa mal-estar e paralisa. Contudo, se atentarmos numa perspetiva histórica, percebemos que o medo foi uma emoção essencial para a sobrevivência da nossa espécie. Na verdade, é o medo que nos permite estar alerta e vigilantes. É o aceleramento cardíaco que nos permite estar preparado fisiologicamente para fugir ou lutar, em caso de necessidade. Resumindo, é o medo que nos impele a agir, mesmo em situações de perigo e/ou adversas.
De facto, é na inquietude que somos impelidos a andar para a frente, a encontrar novas respostas, novos caminhos que nos permitam tranquilizar o espírito e a devolvermo-nos a paz. Parafraseando Nelson Mandela: “A coragem não é ausência do medo; é a persistência apesar do medo.”. Na situação atual, muitos são os motivos que nos podem fazer temer: a incerteza, o desconhecido, a perceção de impotência, a vida dos nossos, a vida do país. É perfeitamente normal que todas estas questões gerem em nós preocupação, ansiedade ou medo. Sentimos a vida e a nossa liberdade fugirem por entre os dedos e somos confrontados diariamente com o reflexo da nossa vulnerabilidade.
Porém está ao nosso alcance agirmos perante o medo. Sabemos que por cima das nuvens existe sempre céu limpo e que mais tarde, ou mais cedo toda esta situação irá passar. Deixemos que o medo nos inquiete, para que assim possamos dar passos em frente e tragamos conforto e felicidade a nós próprios. Talvez andássemos num ritmo tão alucinante que não tínhamos tempo para contemplar a alegria da vida. Provavelmente perdíamo-nos em discussões vãs e problemas, que hoje não o parecem ser, que não conseguíamos valorizar devidamente os pequenos momentos e os pequenos prazeres que o caminho nos proporciona. Estaríamos tão cómodos que não haveria a necessidade de nos “olharmos ao espelho” e confrontarmo-nos connosco. Confrontar as nossas imperfeições e os nossos defeitos e saber aceitá-los, ou mudá-los. Conviver consigo e perceber onde pode melhorar nos diferentes papéis da sua vida. Deixe que o medo entre e aceite-o. Deixe que o medo entre e o inquiete, para que assim possa encara-lo de frente e prossiga o seu caminho mais seguro e em paz consigo próprio.
Drº José Garrett - Psicólogo e Coach em saúde e bem-estar